sábado, 2 de maio de 2015

A aposta de Pascal não é coisa de crente.


O debate entre ateus e cristãos tem chamado atenção no mundo inteiro, em uma época onde a expressão de opiniões é cada vez mais livre e o ateísmo tem crescido de maneira alarmante. Isso tem feito com que cada vez mais crentes se dediquem à Apologética (estudo da defesa da fé) para terem argumentos contra as acusações dos não crentes a respeito de nossa fé. Esse movimento seria muito bom não fosse o desleixo com que se tem buscado essa defesa da fé. Parece que o que vale é calar a boca dos ateus com qualquer tipo de argumento.
De nada adianta combater a descrença e as heresias usando qualquer argumento desqualificado, simplesmente com o objetivo de calar nossos opositores. Nós como crentes e servos de Deus devemos sim combater aqueles que subjugam a nossa fé ou que desonram nosso Senhor, mas devemos fazer isso única e exclusivamente com a verdade. Devemos ter firmes em nossa mente que essa verdade vem de Deus e de sua Palavra e não de filosofias humanas ou interpretações próprias.
Onde quero chegar com isso tudo? Em um argumento que tem sido indiscriminadamente utilizado por alguns apologetas como sendo o supra sumo dos argumentos, aquele capaz de encerrar qualquer discussão com ateus, o argumento irrefutável, que te faz vencedor de qualquer debate: a aposta de Pascal.

Antes de discutir o argumento em si é importante explicar do que se trata essa tal aposta de Pascal. Trata-se de um pensamento do século XVII do filósofo Blaise Pascal que dizia que se Deus existe e você crê nisso então você ganhará a vida eterna, porém se você não crer você terá um castigo eterno; por outro lado, se Deus não existe e você creu nele então você não perderá muita coisa, mas se você não creu também não terá perdido nada. Talvez fique mais fácil entender com o esquema abaixo: 


Ora, parece um excelente argumento. Pela lógica de Pascal, vale muito mais a pena crer em Deus, pois as chances de ganho são maiores. Em outras palavras, vale mais a pena arriscar que Deus exista do que supor que Ele não existe. Mas porque então eu sou contra esse argumento tão “infalível”?
Na verdade são alguns os motivos para eu ser contra o uso do argumento da aposta de Pascal. Talvez o primeiro deles seja porque quase sempre o uso desse argumento começa com a aterrorizante frase “Mas e se você estiver errado e Deus existir?”. O objetivo dessa frase nunca é fazer o sujeito pensar, mas sim causar-lhe medo e a “Teologia do Medo” definitivamente não é algo que deva ser usado para convencer ninguém. As igrejas cristãs que se utilizam dessa teologia do medo quase sempre são igrejas heréticas com características de seita que aprisionam seus fiéis por ameaças e medos para que eles não abandonem aquela denominação. Isso é uma tática antiga e suja, que não deve estar presente na argumentação de um cristão sério.
Outro problema com a aposta de Pascal é que ela pode ser aplicada a qualquer Deus. Um mulçumano pode fazer uso do mesmo argumento para debater com um ateu. Assim também podem fazer os budistas, os hindus, os bahaístas... A aposta de Pascal defende a existência de deus ou deuses, mas não a existência do Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus da Bíblia, o Deus Altíssimo que vive para sempre. Um argumento que não traz glória para o verdadeiro Deus não é um bom argumento para um cristão.
Mas certamente o maior problema com a Aposta de Pascal é considerar Deus como um ser incapaz de julgar nossos atos, nosso coração e nossa atitude. Quando você apresenta a aposta de Pascal para um descrente você está dizendo para ele que o deus que você defende não se importa com sua verdadeira intenção em adorá-lo, mas apenas com a adoração em si. Não é isso que as Escrituras nos ensinam.

Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
Marcos 12:30

Aquele que serve e adora, ou melhor, que diz que adora, a Deus apenas para ganhar a sua salvação certamente não a ganhará. Deus julgará nossos corações e nossa real intenção em servi-lo e apenas aqueles que fizerem isso por amor ao Senhor poderão ter certeza do seu galardão final. Talvez seja sobre esses “apostadores de Pascal” que Cristo nos alerta quando diz:

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.
Mateus 7:21-23

Não seja um “apostador de Pascal”. Não queira servir a Deus apenas por medo de não ir para o céu quando morrer. Pode estar certo de que se sua motivação for essa você já não está caminhando para o céu há muito tempo. Tenha a firme convicção de que Deus é o Senhor das nossas vidas, o criador de todas as coisas, o Todo-Poderoso, aquele que cuida de nós e não permite que pereçamos e por isso Ele merece toda a honra e toda a glória para sempre e por isso também toda a nossa adoração e servidão devem ser a Ele, não por medo, mas por amor ao Senhor e a tudo que Ele tem feito por nós, porque maravilhosas são Tuas obras em nossa vida. Amém.


Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia.
Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus.
Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós.
2 Timóteo 1:12-14

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